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  • Enfermagem: o pilar invisível dos cuidados de saúde

    12 de Maio de 2025

    No Dia Internacional do Enfermeiro destacamos quem todos os dias, garante cuidados de qualidade a quem mais precisa. Inspirados pelo lema escolhido pelo ICN para 2025 - "Os nossos Enfermeiros. O nosso Futuro. Cuidar dos enfermeiros fortalece as economias." - conversámos com Manuel Freitas, Responsável de Enfermagem do Instituto S. João de Deus (ISJD) e Diretor de Enfermagem do ISJD-Funchal. Com décadas de experiência, reflete sobre o papel essencial da enfermagem, o legado de São João de Deus e os desafios e ambições para o futuro da profissão.

     

    Manuel, qual é o papel do enfermeiro, em geral, mas também no contexto do ISJD?
    Em primeiro lugar, quero dar os parabéns a todos os enfermeiros, em especial os que integram a equipa de enfermagem do ISJD.

    O papel do enfermeiro nasce da existência de pessoas com necessidades específicas que só podem ser supridas através do cuidado de enfermagem, independentemente do local onde se encontrem. A intervenção do enfermeiro, centra-se na forma como esta afeta a pessoa nas suas diversas dimensões: física, emocional, social e funcional e não na doença em si.

    A forma como a doença se manifesta na pessoa — ou seja, quando alguém vê comprometida a sua capacidade de comunicar, de se relacionar, de se alimentar, de andar, de cuidar da sua higiene, vestir-se, de lidar com uma condição de saúde nova - é precisamente aí que se centra a atenção do enfermeiro. Podemos simplesmente ensinar, ajudar, orientar, ou até mesmo substituir a pessoa na realização dessas atividades de vida.

    O nosso objectivo é promover a autocuidado e bem-estar, a readaptação funcional, a prevenção complicações, a promoção da saúde e a satisfação do cliente. Melhorando assim a literacia em saúde, a autonomia de realização e decisão, facilitação da inclusão e a vida de qualidade, permitindo à pessoa prosseguir o seu projeto de vida. Este é o nosso papel: aqui no Instituto e em qualquer lugar onde se exerça a enfermagem.

    Fala-se muito da ligação entre os enfermeiros e a Ordem de São João de Deus. Como vê esta relação?
    A ligação é muito profunda e natural. A essência da enfermagem é o cuidado e essa sempre foi também a essência da missão de São João de Deus. Ele percebeu a necessidade de criar espaços diferenciados, onde se cuidasse da pessoa como um todo, algo que não existia até então.

    Este é, aliás, o nosso "core": existimos porque existem pessoas em condição de fragilidade, que durante muito tempo foram menos bem cuidadas e algumas vezes excluídas. E fomos ao encontro dessas pessoas porque ninguém antes se tinha dedicado a elas. Daí esta proximidade com o ato de cuidar e com a essência da profissão de enfermagem. Isto faz com que muitos dos nossos serviços sejam geridos por profissionais de enfermagem precisamente porque lidam com esta essência da pessoa humana e do cuidado que ela necessita.

    A criação de unidades de saúde onde as pessoas possam estar, passar ou permanecer internadas, surge da necessidade de garantir o cumprimento de várias atividades de vida que elas não conseguem realizar por si.  Daí a se afirmar muitas vezes que as pessoas só ficam internadas porque necessitam de cuidados de enfermagem. Se não existisse essa necessidade, se não houvesse este grau de dependência, as pessoas poderiam ficar em qualquer sítio, não precisariam de um espaço onde alguém tivesse de as apoiar ou substituir na realização das suas necessidades humanas básicas.

    Ou seja, há um legado histórico dos próprios Irmãos de S. João de Deus como cuidadores e como enfermeiros?
    Exatamente. Desde o início, os serviços criados pelos Irmãos destinavam-se a cuidar de pessoas com necessidades específicas. Sempre estiveram envolvidos diretamente no cuidar. Criaram escolas de enfermagem e formaram profissionais para dar resposta a essas necessidades. Muitos tornaram-se eles próprios enfermeiros, porque as instituições sentiam a necessidade de ter profissionais preparados e com formação adequada.

    A essência da enfermagem está na resposta às necessidades de quem não consegue, por si só, garantir as várias atividades da vida diária. Por isso, esta ligação é histórica, natural e absolutamente simbiótica.

    Para haver cuidados de qualidade, precisamos de bons enfermeiros e bons serviços de enfermagem?
    Sem dúvida. A enfermagem é um dos pilares centrais da área assistencial. É sobre ela que assenta grande parte do funcionamento dos serviços de internamento. Naturalmente, todos os profissionais de saúde são importantes e as suas competências complementam-se. Mas, quando falamos do cuidar da pessoa e da forma como a doença a afeta o seu dia-a-dia, é aí que a enfermagem se torna essencial. Os vários modelos de enfermagem foram concebidos para dar resposta nesta lógica às atividades da vida da pessoa, desde as mais básicas até às de realização.

    Como define, então, cuidados de qualidade e de excelência?
    É simples: cuidar com excelência é responder de forma eficaz às necessidades e expectativas daquela pessoa específica, independentemente da sua condição. Não se trata apenas de cumprir protocolos, mas de garantir que, no fim, a pessoa se sente verdadeiramente cuidada.

    E olhando para o futuro, que projetos destacaria?
    O grande projeto que tenho é a afirmação da enfermagem dentro do ISJD. Isso passa por colocarmos ao serviço da qualidade total todos os contributos próprios da profissão. Falo da aplicação dos padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem e dos seus enunciados descritivos, que devem orientar a nossa intervenção, conjuntamente com todos os documentos do quadro de referências da profissão.

    Refiro-me a áreas como a promoção do bem-estar, o autocuidado, a readaptação funcional, a prevenção de complicações, a promoção da saúde, a satisfação dos clientes e dos profissionais, e a organização eficiente dos cuidados de enfermagem.

    Este é o caminho para afirmarmos a profissão, mas também para contribuirmos, de forma decisiva, para a qualidade global dos serviços prestados pelo Instituto à comunidade, independentemente do local onde estamos.

    Independentemente da localização, a missão é comum.
    Sim, exatamente. O objetivo é garantir uma prestação de cuidados uniforme, de qualidade, e que responda às necessidades e espectativas específicas de cada cliente no seu contexto. Para isso, é fundamental procurar sempre a melhor evidência disponível, intervir e reflectir na acção e após a acção, inovar, investigar, implementar programas eficazes, sem nunca perder de vista o que está no centro de tudo - a pessoa, a sua história e seu projeto de vida.

    Tudo isto com o trabalho da equipa de enfermagem em conjunto com, os igualmente importantes, membros de todas as outras equipas do Instituto S. João de Deus.

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